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quinta-feira, 3 de março de 2016

RELATO DE PARTO | Nascimento de Miguel Ifé

Relato do parto domiciliar de meu filho Miguel Ifé, nascido em 07 de agosto de 2015, em Cachoeira, estado da Bahia:

05 de agosto de 2015 – PRÉ-PARTO

Essa seria a minha última consulta de pré-natal. Fui ao posto de saúde para atendimento com a enfermeira que me acompanhou durante a gravidez. Ela auscultou o bebê e mediu a barriga, disse que continuava com a mesma medida da semana passada e que ainda não tinha “descido”. A DPP (data prevista do parto) era dia 07/08, mas ela falou que Ifé poderia nascer até 15 dias após essa data. Eu estava tranquila e pedi para meu filho chegar depois que eu terminasse de arrumar o quarto todo (risos). A enfa estava ciente de que o parto seria domiciliar, acompanhado por uma parteira e para a minha felicidade incentivou muito a minha decisão. Deu orientações sobre amamentação, vacina e pós parto.

06 de agosto de 2015 – TRABALHO DE PARTO

O dia amanheceu lindo! Eu e Filipe (meu companheiro) recebemos o convite e fomos almoçar na casa de uma amiga (Debora). Depois do almoço tirei um cochilo e ao acordar decidi fazer um bolo de chocolate - que saiu uma catástrofe. Acabamos comendo pizza de pão. A parteira, que estava em uma cidade no sul da Bahia ligou por volta de 20 horas para saber como eu estava. Eu disse que tava ótima, que não estava sentindo nada diferente e que era pra ela ficar tranquila pois Ifé esperaria ela chegar. Por incrível que pareça, cerca de meia hora após a ligação senti os primeiros sinais da chegada de Ifé. Fortes dores no pé da barriga e uma vontade imensa de fazer cocô. Fiquei muito irritada e incomodada com as dores e fui para casa com meu companheiro e minha prima (Diamila) – também madrinha espiritual de Ifé -, que decidiu dormir lá para me acompanhar. Em casa as dores se tornaram mais frequentes e fui diversas vezes ao banheiro. Decidimos ligar para a parteira. Falei o que estava sentindo e ela perguntou se havia sangrado. Não havia até eu desligar o telefone e notar um pingo de sangue na calcinha. Ligamos novamente e ela pediu para ficar em observação e havendo necessidade poderíamos ir para o hospital. Sugeriu que eu me deitasse e tentasse dormir. Ela viria no primeiro ônibus para cá, no dia seguinte. Ligamos para a fotógrafa (e amiga! Debora, a mesma amiga que almocei na casa) que era praticamente nossa vizinha e avisamos que estava quase na hora. Já era quase umas 22 horas quando o tampão mucoso saiu e ali minha ficha caiu: Ifé estava para vir. As contrações passaram a ser de 10 em 10 minutos, oscilando entre 8 e 9 min. Conversamos. Estava insegura com a ausência da parteira, mas disse a todos que não iria ao hospital, que meu filho nasceria no nosso lar. A fotógrafa disse que toda decisão seria minha e que se estava certa, precisaria colocar isso em minha cabeça e perder os medos. Acreditei em mim e decidi que aguentaria todo o processo do parto. Em seguida decidimos dormir. As meninas na sala. Eu, Filipe e Kassim (o gato) no quarto. Eu não consegui dormir. O tempo entre uma contração e outra ia diminuindo.

07 de agosto de 2015 – O PARTO

Era madrugada. Deitava na cama e quando a contração vinha me levanta e ia ao banheiro. Kassim me olhava atentamente, ainda bêbado de sono (risos). A cada minuto as contrações ficavam mais fortes, a barriga ficava bem rígida e meu corpo todo se contraía com uma sensação de dor inexplicável. Tomei banho quente umas três vezes no chuveiro enquanto todos dormiam - não aliviou foi nada! Filipe tinha um sono de pedra e não viu nenhuma das vezes que levantei da cama. Por volta das 4 horas da madruga, um “frio de matar”, chamei minha prima e disse que não aguentava mais de dor; perguntei o que podíamos fazer pra amenizar e ela disse que nada, que eu teria que ser forte. Nessa hora Lipe acordou e as meninas foram para nosso quarto. Não gritei, apenas me concentrei na dor. Não tive exame de toque. Foi tudo na intuição. Por volta das cinco horas da manhã Ifé já tinha coroado. Toquei e senti sua cabeça. Agora tinha certeza que não esperaríamos a parteira chegar. Minha prima colocou as luvas e preparou o local para o nascimento. A fotógrafa registrava tudo. Lipe sentou na cadeira e me segurou pelos braços. Fiquei em uma posição meio que sentada. A cada momento da contração eu fazia a força e a cabeça saía. Às vezes eu achava que não seria capaz, mas em silêncio pedia forças aos meus ancestrais e aos espíritos de luz que estavam presentes naquele momento. As meninas ligaram para uma doula amiga nossa para que viesse cortar o cordão. Percebi que este era o momento meu e de meu filho e ele viria a qualquer hora. Minha prima começou a cantar uma canção e me concentrei. Na hora da contração a força era minha e de meu bebê. Às 6h53min ele veio ao mundo de uma só vez, com um grito único de força, amparado pelas mãos da madrinha e direto para os meus braços. Ao ver que era um menino gritei alto: MIGUEL IFÉ. Naquele momento me senti completa. Ele veio ao mundo com 49cm e 3kg.



Todas as dores foram colocadas pra fora. Fui julgada e condenada, mas estava certa de que não queria ter meu filho em um hospital e sofrer violência obstétrica. Foi uma das melhores escolhas da minha vida! Depois de realizar este parto tenho certeza da força que carrego dentro de mim e que nós mulheres devemos sempre ser as protagonistas deste momento único.

Agradecimentos

Ao meu companheiro Filipe, que foi meu braço direito desde o momento que descobrimos a gravidez e que esteve firme e forte no momento final do parto (foi bom ele ter dormido! rs); à minha prima e cumadre Diamila, por ter amparado seu afilhado e pela companhia e energia que emanou; à Debora, madrinha 2 e fotógrafa máster, por todo incentivo e por ter registrado cada momento; à Lais Fernanda por ter atendido ao nosso pedido e ter ajudado a cortar o cordão umbilical. À dona Val, a parteira, mesmo não tendo feito meu parto chegou para ajudar no pós e foi uma grande mãe! Pela energia que emanou na produção da medicina da placenta e pelos banhos no netinho Ifé. À Laiana, Jade e minha mãe Meuri que foram peças fundamentais no pós parto e deram uma super força aqui em casa!

Aos amigos e amigas, família e companheirxs de luta que foram importantes em cada processo da gestação. Digo que este foi um parto de resistência, que terá a mesma intensidade na criação e educação do tão esperado cachoeirano Miguel Ifé!

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