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segunda-feira, 28 de março de 2016

O que são essas tais fraldas modernas?



As fraldas modernas (ou ecológicas) lembram aquelas antigas calças enxutas utilizadas por nossas mães e avós, mas diferem porque são feitas de tecidos, como algodão ou malha, e podem ser utilizadas até o desfralde da criança. É uma aposta para quem quer economizar no gasto com fraldas descartáveis e ainda contribui para diminuir a poluição no meio ambiente. Mais charmosas e duráveis, elas dão pouquíssimo trabalho na hora da lavagem e têm pouco índice de desenvolvimento de alergias. 

COMO SÃO FEITAS

As fraldas são feitas em diversos tecidos. A sua composição externa pode ser em algodão, malha de biquíni, Microsoft/soft, pul (tecido importado impermeável), poliamida ou outros tecidos; e composição interna em algodão orgânico, dryfit, carvão de bamboo e Microsoft/soft. Tem fecho de velcro ou  de botões de pressão e podem ser em tamanhos do P ao EX ou em tamanho único com botão de regularem ou elásticos caseados ajustáveis à medida que o bebê cresce (de 3 à 16kg).

Os tipos de fraldas que existem são:
Pocket: fraldas com bolso para inserir o absorvente ou fraldas de pano;
Capa: o absorvente de pano fica em contato direto com a pele do bebê;
Diária: feitas de tecidos mais leves, como o algodão, e são usadas no dia-a-dia;
Noturna: feitas em Microsoft, têm a função de deixar o bebê seco durante toda a noite;
Praia/Piscina: feitas com a mesma malha de biquínis e dryfit (tecido de secagem rápida), essas fraldas podem ser usadas dentro do mar, sem o absorvente, seguram o cocô e aguentam xixi duas vezes.

Interior de uma fralda moderna, modelo Coolababy. Foto da internet

Os absorventes de pano internos podem ser feitos em tecidos como microfibra, carvão de bambo, fraldas de pano, cueiro, microsoft, atoalhado, melton ou qualquer outro tecido absorvente. Alguns podem ficar em contato com a pele do bebê, mas outros causam alergias e só devem ir dentro do bolso da fralda como os de microfibra, por exemplo.

COMO USAR

Quem escolheu a opção de fraldas com bolsos já pode deixá-las montadas em uma gaveta ou estante e trocá-las a cada 3/4  horas ou a depender do fluxo de xixi do seu bebê. Após tirá-la pode armazenar em um balde seco, de preferência com tampa, e lavar dia sim dia não ou a cada dois dias, a depender de sua disponibilidade. No caso das fraldas tamanho único você ajusta os botões ou o elástico de acordo com o tamanho da criança, tomando cuidado com o ajuste das perninhas, local de maior índice de vazamentos.

COMO LAVAR


Primeiro: está terminantemente proibido usar sabão em pó, em barra, alvejante ou amaciante. Esses produtos danificam as fibras do tecido fazendo com que as fraldas impermeabilizem, ou seja, não absorvam mais xixi. Cada pessoa lava de uma maneira e com produtos diferentes e os sugeridos são vinagre branco, bicarbonato de sódio, álcool (preferência o 70%), detergente neutro (de lavar pratos), água oxigenada ou sabão líquido (quantidade mínima para não impermeabilizar a fralda).

Lavagem na máquina ou tanquinho: Nas lavagens diárias desmonto as fraldas e absorventes e faço uma pré-lavagem (molho apenas com água); coloco na máquina de lavar uma colher de sopa de detergente neutro ou sabão líquido para uns 50 litros de água e dois copos americanos de vinagre branco (para tirar o odor de xixi); às vezes coloco umas duas colheres de sopa de bicarbonato de sódio e por fim faço enxague duplo (a opção centrifugar não pode ser utilizada, pois danifica o material). Tem pessoas que optam por lavar apenas com água por causa do cloro que vem no tratamento da água encanada aqui no Brasil. 

Fraldas e absorventes podem ser lavados juntos, mas cuidado: se tiver fraldas com velcro prefira lavá-las separadamente.

Varal de fraldas e absorventes de pano. Foto da internet

Lavagem à mão: Em uma bacia coloco na água todos os itens descritos anteriormente, alterando apenas a quantidade. Dou uma chacoalhada ou esfregada e deixo de molho 20min depois enxáguo.

Como desinfetar: Uma vez por mês faço o processo da seguinte maneira: coloco todos os absorventes eu em uma bacia ou balde com água fervente e bicarbonato de sódio e deixo de molho até esfriiar. A quentura da água ajuda a tirar a impermeabilidade causada pelos produtos e também desinfeta caso tenha alguma bactéria. No caso das fraldas, elas não podem ficar numa temperatura muito quente, por isso coloco-as no balde na água quente do chuveiro com bicarbonato de sódio e depois de esfriar a água, enxáguo. Também aprendi a usar água sanitária em algumas lavagens, uma quantidade mínima, tipo: para 50 litros de água coloquei duas tampinhas de 5ml.

E o cocô? 

Para o cocô de bebês que tomam apenas leite materno minha sugestão é mergulhar tudo na água ou debaixo da torneira e tirar o excesso, depois coloca dentro da máquina ou lava à mão esfregando. Para crianças que já se alimentam e fazem um cocô mais consistente, joga o excesso no vaso sanitário e faz o mesmo procedimento. Também já criei uma pasta com água e bicarbonato de sódio e deixei quarando até a mancha sumir. Se não ficar branquinha e tirar toda a mancha não se preocupe, enxague e deixe no sol que ele tira tudinho. Mas depois que descobri que apenas pendurar ela molhada no varal em direção ao sol resolve o problema parei de fazer isso!

ONDE COMPRAR E CHÁ DE FRALDAS

As fraldas modernas são encontradas principalmente em lojas virtuais e você pode comprar por cartão de crédito, depósito e boleto bancário. Esse serviço inclui taxas como frete que podem variar dependendo do CEP de origem do empreendimento/revendedora. Algumas cidades tem loja física e você pode escolher pessoalmente. Esses empreendimentos também trabalham com o Chá de Fraldas virtual, em que você faz a lista e os/as convidados/as podem comprar pelo site. Em outra postagem apresentarei uma lista de marcas nacionais e revendedoras de fraldas modernas em todo o Brasil e aí você vai poder saber se no seu estado vende ou quem está mais próximo. Você também vai saber sobre o curso online que ensina passo a passo a fabricá-las.

MINHA EXPERIÊNCIA

Investi R$700,00 em fraldas de pano para usar até o desfralde. Atualmente tenho 28, quantidade suficiente para lavar de dois em dois dias. Fiz vaquinha entre amigos e arrecadei cerca de mais da metade do valor, assim comprei novas e usadas de quatro diferentes marcas, todas em tamanho único: Nós e o Davi e Dipano, marcas nacionais, e as importadas Ananbaby, Coolababy e chinesas de nomes desconhecidos. Tenho 4 fraldas de piscina, uma noturna e o restante para o dia-a-dia, todas no estilo pocket. Os absorventes que tenho são em microfibra, fleece, carvão de bamboo, melton e cueiro + atoalhado. Ainda uso as descartáveis às vezes para dormir, ir à rua e em viagens longas.

A minha adaptação com as fraldas de pano foi gradual. Comecei a usar de fato em meu filho – que atualmente tem 8 meses – desde os três meses, porque todas já cabiam nele. Tive problemas com vazamentos laterais, impermeabilização e lavagem. Me sinto mais segura, porém ainda não para deixar meu filho dormir com fralda de pano porque as experiências não foram boas e estou testando novamente. No início a lavagem era à mão, por serem poucas e porque tinha todo um ritual, mas com o aumento da quantidade lavo tudo no tanquinho e isso melhorou o tempo-benefício em 100%. 

Os pontos positivos do uso foram a redução de lixo diário com as fraldas descartáveis, o não aparecimento de assaduras e diminuição nos gastos com compra de fraldas. Os negativos foram a 
adaptação e os vazamentos, porque é tudo processual. Não considero que elas dêem trabalho, porque o mesmo tempo que reservo para lavar as roupas do bebê é o que lavo as fraldas.

Opinião de cada fralda que comprei

Essa foto é do bebê Samuel reproduzida no site da Dipano
Dipano: As fraldas Dipano são para mim uma das melhores, porém o custo dela é muito alto. São grandes e nunca tive problemas com vazamento durante o dia. Meu filho já dormiu com o kit de absorventes noturnos, algumas vezes vazaram xixi e outras não. Atualmente a combinação aborvente noturno de microfibra da Dipano + melton da Nós o Davi dura cerca de 10 horas. Elas são em tamanho único com ajuste de botões e tem estampas lindas. São as minhas preferidas! A empresa é nacional, mas as fraldas são produzidas na China com tecido importado (pul), acredito que por isso elas têm um preço mais salgado.

Nós e o Davi: São produzidas nacionalmente pela mãe empreendedora Laís. Me apaixonei pelo site, as estampas das fraldinhas e o carinho no atendimento ao público. Comprei fraldas com tecido externo em algodão, a noturna e as de piscina/praia. São em tamanho único, com elástico caseado nas pernas e cintura e fecho com botões de pressão. Tive problemas com vazamento nas laterais com as fraldas de algodão, por isso desisti de usar. Em compensação as de praia são ótimas para o calor da Bahia e nunca vazaram – atualmente são as que eu uso. O absorvente de melton que vem junto tem a melhor absorção de xixi também. São as fraldas que melhor se adaptaram ao corpo de meu filho.

Ananbaby: São as mesmas das fraldas Dipano e tem um preço muito menor. A experiência foi a mesma.

Coolababy: São importadas com tecido em pul, tamanho único e ajuste de botões. Como comprei usadas, os elásticos estavam desgastados, mas levei na costureira e ficaram novas. Foram aprovadas no quesito beleza e tamanho. São maiores que as outras, com ajuste extra-grande. O tecido que vai em contato com a pele, carvão de bamboo, é um dos melhores porque não deixa muito molhado, mas ainda tenho problemas com vazamento nas laterais das perninhas.

Chinesas: Essas eu ganhei em uma troca. São em tecido pul, mas achei a forma muito pequena. Porém são boas porque vazam bem pouco. 

O uso das fraldas de pano foi um dos melhores investimentos que fiz para meu filho. Ele nunca apresentou assaduras e nem alergia a nenhum tipo de tecido. Nunca tive problemas com cocô ou manchas e pretendo guardá-las para a próxima cria, quem sabe (risos). Ainda vou testar outras fraldas e absorventes para chegar ao nível de abolir o uso das fraldas descartáveis. 

Ouço muita chacota em relação a essa escolha mas não me arrependo. As pessoas perguntam: “você vai lavar fralda de cocô”? e pensam apenas na comodidade das fraldas descartáveis. Pois eu digo, as fraldas de cocô quem lava é a máquina! Outros dizem: “como são ecológicas se gasta água para lavar”? Lhes digo, as descartáveis gastam muito mais para sempre produzidas! Em suma, cada escolha tem dois lados (ou vários), o importante é respeitá-las. Acompanho um grupo do facebook chamado “Fraldas de pano - Fraldas ecológicas” que tem relatos, dúvidas e também é um espaço de venda de fraldas usadas para quem busca o preço mais em conta.

Ps.: A marca Nós e o Davi tem um canal no youtube que tira várias dúvidas sobre como usar, composição das fraldas, tipo de absorvente e você pode deixar sua pergunta: https://www.youtube.com/channel/UCH4T4Kuyj3PuRZlT7HU5LkA

quinta-feira, 3 de março de 2016

RELATO DE PARTO | Nascimento de Miguel Ifé

Relato do parto domiciliar de meu filho Miguel Ifé, nascido em 07 de agosto de 2015, em Cachoeira, estado da Bahia:

05 de agosto de 2015 – PRÉ-PARTO

Essa seria a minha última consulta de pré-natal. Fui ao posto de saúde para atendimento com a enfermeira que me acompanhou durante a gravidez. Ela auscultou o bebê e mediu a barriga, disse que continuava com a mesma medida da semana passada e que ainda não tinha “descido”. A DPP (data prevista do parto) era dia 07/08, mas ela falou que Ifé poderia nascer até 15 dias após essa data. Eu estava tranquila e pedi para meu filho chegar depois que eu terminasse de arrumar o quarto todo (risos). A enfa estava ciente de que o parto seria domiciliar, acompanhado por uma parteira e para a minha felicidade incentivou muito a minha decisão. Deu orientações sobre amamentação, vacina e pós parto.

06 de agosto de 2015 – TRABALHO DE PARTO

O dia amanheceu lindo! Eu e Filipe (meu companheiro) recebemos o convite e fomos almoçar na casa de uma amiga (Debora). Depois do almoço tirei um cochilo e ao acordar decidi fazer um bolo de chocolate - que saiu uma catástrofe. Acabamos comendo pizza de pão. A parteira, que estava em uma cidade no sul da Bahia ligou por volta de 20 horas para saber como eu estava. Eu disse que tava ótima, que não estava sentindo nada diferente e que era pra ela ficar tranquila pois Ifé esperaria ela chegar. Por incrível que pareça, cerca de meia hora após a ligação senti os primeiros sinais da chegada de Ifé. Fortes dores no pé da barriga e uma vontade imensa de fazer cocô. Fiquei muito irritada e incomodada com as dores e fui para casa com meu companheiro e minha prima (Diamila) – também madrinha espiritual de Ifé -, que decidiu dormir lá para me acompanhar. Em casa as dores se tornaram mais frequentes e fui diversas vezes ao banheiro. Decidimos ligar para a parteira. Falei o que estava sentindo e ela perguntou se havia sangrado. Não havia até eu desligar o telefone e notar um pingo de sangue na calcinha. Ligamos novamente e ela pediu para ficar em observação e havendo necessidade poderíamos ir para o hospital. Sugeriu que eu me deitasse e tentasse dormir. Ela viria no primeiro ônibus para cá, no dia seguinte. Ligamos para a fotógrafa (e amiga! Debora, a mesma amiga que almocei na casa) que era praticamente nossa vizinha e avisamos que estava quase na hora. Já era quase umas 22 horas quando o tampão mucoso saiu e ali minha ficha caiu: Ifé estava para vir. As contrações passaram a ser de 10 em 10 minutos, oscilando entre 8 e 9 min. Conversamos. Estava insegura com a ausência da parteira, mas disse a todos que não iria ao hospital, que meu filho nasceria no nosso lar. A fotógrafa disse que toda decisão seria minha e que se estava certa, precisaria colocar isso em minha cabeça e perder os medos. Acreditei em mim e decidi que aguentaria todo o processo do parto. Em seguida decidimos dormir. As meninas na sala. Eu, Filipe e Kassim (o gato) no quarto. Eu não consegui dormir. O tempo entre uma contração e outra ia diminuindo.

07 de agosto de 2015 – O PARTO

Era madrugada. Deitava na cama e quando a contração vinha me levanta e ia ao banheiro. Kassim me olhava atentamente, ainda bêbado de sono (risos). A cada minuto as contrações ficavam mais fortes, a barriga ficava bem rígida e meu corpo todo se contraía com uma sensação de dor inexplicável. Tomei banho quente umas três vezes no chuveiro enquanto todos dormiam - não aliviou foi nada! Filipe tinha um sono de pedra e não viu nenhuma das vezes que levantei da cama. Por volta das 4 horas da madruga, um “frio de matar”, chamei minha prima e disse que não aguentava mais de dor; perguntei o que podíamos fazer pra amenizar e ela disse que nada, que eu teria que ser forte. Nessa hora Lipe acordou e as meninas foram para nosso quarto. Não gritei, apenas me concentrei na dor. Não tive exame de toque. Foi tudo na intuição. Por volta das cinco horas da manhã Ifé já tinha coroado. Toquei e senti sua cabeça. Agora tinha certeza que não esperaríamos a parteira chegar. Minha prima colocou as luvas e preparou o local para o nascimento. A fotógrafa registrava tudo. Lipe sentou na cadeira e me segurou pelos braços. Fiquei em uma posição meio que sentada. A cada momento da contração eu fazia a força e a cabeça saía. Às vezes eu achava que não seria capaz, mas em silêncio pedia forças aos meus ancestrais e aos espíritos de luz que estavam presentes naquele momento. As meninas ligaram para uma doula amiga nossa para que viesse cortar o cordão. Percebi que este era o momento meu e de meu filho e ele viria a qualquer hora. Minha prima começou a cantar uma canção e me concentrei. Na hora da contração a força era minha e de meu bebê. Às 6h53min ele veio ao mundo de uma só vez, com um grito único de força, amparado pelas mãos da madrinha e direto para os meus braços. Ao ver que era um menino gritei alto: MIGUEL IFÉ. Naquele momento me senti completa. Ele veio ao mundo com 49cm e 3kg.



Todas as dores foram colocadas pra fora. Fui julgada e condenada, mas estava certa de que não queria ter meu filho em um hospital e sofrer violência obstétrica. Foi uma das melhores escolhas da minha vida! Depois de realizar este parto tenho certeza da força que carrego dentro de mim e que nós mulheres devemos sempre ser as protagonistas deste momento único.

Agradecimentos

Ao meu companheiro Filipe, que foi meu braço direito desde o momento que descobrimos a gravidez e que esteve firme e forte no momento final do parto (foi bom ele ter dormido! rs); à minha prima e cumadre Diamila, por ter amparado seu afilhado e pela companhia e energia que emanou; à Debora, madrinha 2 e fotógrafa máster, por todo incentivo e por ter registrado cada momento; à Lais Fernanda por ter atendido ao nosso pedido e ter ajudado a cortar o cordão umbilical. À dona Val, a parteira, mesmo não tendo feito meu parto chegou para ajudar no pós e foi uma grande mãe! Pela energia que emanou na produção da medicina da placenta e pelos banhos no netinho Ifé. À Laiana, Jade e minha mãe Meuri que foram peças fundamentais no pós parto e deram uma super força aqui em casa!

Aos amigos e amigas, família e companheirxs de luta que foram importantes em cada processo da gestação. Digo que este foi um parto de resistência, que terá a mesma intensidade na criação e educação do tão esperado cachoeirano Miguel Ifé!

Por que escrevo sobre preto?


A minha infância e adolescência foram de negação da minha cor, eu me achava “morena” e me sentia o máximo, me apaixonava por caras brancos, cabelo tipo “anjinho”, mandava cartinhas e nunca era correspondida. Com cerca de nove anos eu ouvi de um menino que eu tinha que sair dali (da piscina de um clube) porque eu era neguinha. Hoje tenho 27 anos e essa cena nunca saiu da minha cabeça. Há cerca de nove anos, quando decidi parar de alisar meu cabelo e passar pela transição, percebi como o racismo se manifestou através da estética. Nesse processo me reconheci mulher negra e entendi as diferenças explícitas pregadas na sociedade. 
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Se você acredita, sinto dizer, NÃO SOMOS TODOS IGUAIS. Era pra ser, mas existem diferenças sim. Porque não somos tratados igualmente. Por isso existe o feminismo negro, por exemplo, pelas particularidades que a mulher negra enfrenta. Uma mulher branca nunca vai saber o que é racismo institucional, entender a hipersexualização do corpo ou ouvir que seu cabelo é “duro e ruim”.

Então quando quero escrever sobre a maternidade negra, saúde da população negra, racismo, cabelo crespo e outras coisas que representam o universo negro é porque essas diferenças existem e se manifestam em minhas vivências e preciso combatê-las e evidenciá-las. Uma mãe branca nunca vai ouvir de sua filha – a não ser que ela seja negra – que a coleguinha da escola disse que a cor dela é suja. Uma mãe branca com um filho branco nunca vai ouvir que é babá. Uma mãe branca com um filho branco nunca vai ter que pedir para seu filho não sair porque a polícia ta na rua ou pedir para cortar o cabelo e ou se arrumar para não parecer um marginal. Uma mãe branca nunca vai ouvir que seu corpo aguenta tudo, que sua genética é forte. Uma mãe branca nunca vai ouvir que parto domiciliar é só para artista ou rico.

Se existem diferenças, é porque sempre foi assim. Negro entra pela porta dos fundos, pega o elevador de serviço, não come na mesa principal. Eu vivi e vivo o racismo. Eu neguei meu cabelo e minha cor. Eu ouvi que eu era preta e com esse cabelo eu ficava pior ainda. O racismo me adoeceu, me jogou na cama e eu achei que nem seria capaz de ter meu diploma de nível superior. 

E você ainda vem me dizer que somos todos iguais? Enquanto as pessoas disserem que nós negros somos vitimistas, que tudo é mimimi e que vemos racismo em tudo, vou continuar escrevendo sobre preto e falando das particularidades que somente nós entendemos. No dia que isso acabar excluo blog, facebook e tudo que for relacionado a essa temática. Enquanto isso, “mingula”!