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quarta-feira, 20 de abril de 2016

Dentro da mãe existe uma mulher


Quando nasce uma criança, morre uma mulher. Todas as atenções estão voltadas para o ser que chegou: “Cadê o bebê?”, “E o bebê?”, “Saiu sem o filho?”. Sinto falta de algumas perguntas do tipo “Como você está?”, “Está tudo bem de verdade?”, “Quer que eu fique com você hoje?”. Ninguém se preocupa com a mulher que morre, suas dores e seu lamento. O que importa agora é que existe alguém para alimentar, para rir e se dedicar. E a mulher que morreu onde fica?

Antes a rotina era um cronograma capilar ou um penteado diferente. Hoje um creme de pentear com água ou um turbante bastam. A preocupação era o batom, o rímel para deixar os cílios volumosos, a roupa mais tombamento e o paquera que iria encontrar na rua. Mas o batom não cabe mais na bolsa porque tem que levar água, as fraldas, a toalhinha. A roupa mais importante é a que dá para amamentar. Ninguém te olha. Nem os paqueras existem mais.

Aquela mulher morreu. Foi embora depois que acordei e vi aquele serzinho deitado ao meu lado na cama. Morreu quando eu estava cansada demais para fazer sexo e invisível na rua, mesmo estando sem ele nos meus braços. Ninguém quer saber da dor de uma mãe, do cansaço e solidão. Temos que pagar o preço de tudo que foi gerado dentro de nós.

Às vezes só um colo me bastava. Só um banho prolongado no chuveiro ou poder fazer uma fitagem no cabelo sem me preocupar se o bebê vai acordar e chorar. Às vezes um “E aí, tudo bem?” ou um beijo de bom dia acompanhado de “Como você é linda!” - mesmo com as olheiras de panda.


Quando uma criança nasce, morre uma mulher. Morrer também é nascer. Nasce uma mãe. E que mãe! Mas ela também chora, quer voltar no tempo, dormir ou apenas ficar sozinha cinco minutinhos. A mãe também quer que aquela mulher renasça, mesmo sabendo que isso vai lhe custar tempo. Apenas parem de julgar a mãe! Nós precisamos mesmo é de amor e que – mesmo que de vez em quando – você lembre que existe uma mulher aqui dentro. Sabe o que a mulher aqui dentro desejaria para hoje? Um orgasmo bem gostoso e rir sem parar sem saber se o bebê vai acordar. 

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